sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O equívoco Lebron

Não quero ser mal interpretado, pelo que começo por afirmar que, na minha opinião, o Lebron James é o melhor jogador de basquetebol na actualidade e um dos melhores de sempre. E não é de agora, já o penso há alguns anos.

Resumidamente, trata-se de um jogador que tem, em 11 anos de NBA, as médias de 27.5 pontos, 7.2 ressaltos e 6.9 assistências por jogo. Facilmente se perceberá que são números elevados, mas para que melhor se compreenda quão elevados são, pese as diferenças do basquetebol do presente comparativamente ao dos anos 80 (bom tema para um artigo), basta referir que o Larry Bird, outro dos jogadores cuja inclusão no lote dos melhores de sempre é indiscutível na minha opinião, logrou atingir, em 13 temporadas, 24.3 pontos, 10 ressaltos e 6.3 assistências por jogo.

Mas as estatísticas, apesar da sua utilidade, não revelam tudo o que se passa num jogo ou numa época. Por exemplo, em teoria, 100% nos lançamentos triplos seria sempre melhor que 35%. Mas, na prática, 35 lançamentos triplos concretizados em 100 tentados é bastante melhor que 1 em 1. Serve este exemplo, absurdo por tão óbvio, para demonstrar que é preciso ir mais além na análise de um jogador.

No patamar dos melhores de sempre, considero que as variáveis mais importantes a ter em conta quando se avalia se um jogador faz ou não parte desse grupo restrito, são as seguintes:
- Estatísticas individuais;
- Impacto na equipa;
- Impacto no jogo (outro bom tema).

Naturalmente, estatísticas individuais muito acima da média em equipas cujo desempenho tenha sido excelente ou, pelo menos, bom, e o jogo ter mudado em função das características e/ou desempenho individual de um jogador. Tal serve para qualquer desporto e um atleta que não cumpra estes requisitos até poderá figurar nos melhores de sempre, mas entre os menos relevantes.

Se, do ponto de vista individual, e mesmo do colectivo, parece-me indiscutível que o Lebron possa ser considerado um dos melhores de sempre, tenho algumas reservas, para não dizer mesmo certeza, que pouco acrescentou, até ver, ao basquetebol. O único destaque que se lhe poderá atribuir neste capítulo será, porventura, a invenção do "point forward", que não mais é que, traduzido para linguagem corrente, um tipo de jogador que se notabiliza pela sua capacidade física sendo, ao mesmo tempo, capaz de comandar o ataque de uma equipa. Mas será que o Lebron James tem realmente a capacidade de desempenhar esse papel? Não creio que a tenha, apesar de o tentar recorrentemente.

E não o consegue por uma razão simples: é pouco inteligente (atenção, a bitola está nos melhores jogadores de sempre). Todas as vezes em que se liberta de alguns constrangimentos é imparável. Quase imbatível no 1x1, competente no tiro exterior, letal no contra-ataque e nas transições rápidas, importante nos ressaltos, passador decente e defensor competente. Mas é afectado pelos tais constrangimentos.

Que constrangimentos são esses? Desde logo, a aparente necessidade constante que tem de provar que é um jogador cerebral, o que mostra logo que não o é. Depois, um característico desnorte na leitura do jogo, em que, invariavelmente, decide mal se deverá atacar o cesto ou lançar de fora ou se há-de imprimir velocidade ou acalmar o jogo. E ainda, não raras vezes, convencer-se que tem que envolver os colegas na partida, o que resulta num Lebron James amorfo e, consequentemente, pouco interventivo, limitando-se a passar a bola aos colegas quando, na maioria das situações, deveria assumir o seu papel, o de "go to guy", que lhe assenta que nem uma luva tais são as suas qualidades técnicas e, sobretudo, físicas.

Vi o mesmo acontecer com o Michael Jordan, embora com resultado diferente, para bastante melhor. Concordo que as grandes vedetas tenham, por vezes, que prescindir da sua individualidade em prol do colectivo. Momentos haverão certamente em que o colectivo terá que se superar por ausência ou desinspiração das individualidades. Mas a questão é que, no caso do Lebron, assistimos com alguma regularidade a uma anulação patética da sua individualidade. O Lebron parece não entender que envolver os colegas não se trata de se distanciar do cesto para ver, em posição privilegiada, os seus colegas a jogarem 4x4. Trata-se antes de contribuir decisivamente para que os colegas acrescentem algo ao jogo, coisa que ele, com uma frequência irritante, não o faz.

É natural que tenha incorrido em alguns exageros. Afinal, relembro que o considero o melhor jogador da actualidade. Mas mais exagerada é a comparação que lhe fazem, e que chega a parecer forçada, ao Michael Jordan. Porque marcar muitos pontos, ganhar muitos ressaltos e fazer muitas assistências, apesar de excelente, não é tudo. Falta-lhe QI basquetebolístico e onze anos já teriam sido mais que suficientes para adquiri-lo...