sábado, 28 de janeiro de 2012

Ricky Rubio

Comecei a época entusiasmado com os Clippers mas os Wolves são a equipa que tenho seguido mais atentamente. A principal razão: Ricky Rubio!

Rick Adelman, o experiente treinador dos Wolves a caminho das 1000 vitórias na 21ª época à frente de uma equipa da NBA, foi inteligente na forma como lançou o base espanhol para a ribalta. Nos primeiros dez jogos da época, Rubio foi suplente. Mas não um suplente qualquer pois esteve em campo na totalidade dos quartos períodos de cada uma dessas partidas. Ao 11º jogo foi-lhe concedida a titularidade.

É certo que as lesões de jogadores tidos como fundamentais ajudaram (Beasley, Barea), mas as oportunidades são para se agarrar e Rubio agarrou-as.

O imediato contributo do jovem base para a sua equipa está acima das melhores expectativas. Rubio, apesar da já longa fama que o precede, carecia de boas estatísticas no Barcelona ou na selecção espanhola. Os analistas americanos sabiam apenas que Rubio se trataria de um jovem jogador espanhol que se tornara profissional aos 14 anos, jogara na selecção espanhola, havia sido seleccionado no draft em 2009 e se recusara a estrear na NBA nessa e na época seguinte. Sabiam também que, no campeonato da Europa de sub-16, além de ter sido o MVP da competição, na final, marcou 51 pontos, ganhou 24 ressaltos, fez 12 assistências e roubou 7 bolas.

Recordo-me das dúvidas levantadas poucos dias antes da época começar: É um fraco lançador e, nos restantes capítulos do jogo, é bom em todos mas sem ser extraordinário em qualquer deles. De todas as opiniões que tive oportunidade de ler, americanas, portuguesas e, inclusive, algumas espanholas, não houve uma que defendesse inequivocamente que o Rubio viria a ter impacto na NBA. Mas tem, não só pelo seu desempenho mas, conforme explicarei mais à frente, na forma como se pensa o basquetebol na NBA.

Quais são então os "números" do Rubio quando nos aproximamos do final do primeiro terço da época?

19 jogos; 33.8 min; 38,7% FG; 35,7% 3pts; 81,6% LL; 4,6 Res; 8,8 Ast; 2,4 RB; 3,42 TO; 11,4 Pts.

O desempenho do Rubio, avaliado somente pelas estatísticas, já poderá ser considerado bom. Convém, no entanto, comparar com os restantes jogadores:
- 3º em assistências por jogo;
- 3º em roubos de bola;
- 14º no rácio Assistências por perda de bola;
- 13º em duplo-duplos;
- 24º em LL por 48 minutos;
- 36º em minutos por jogo;
- 1º em assistências por 48 minutos;
- 1º em roubos de bola por 48 minutos;
- 34º em ressaltos por 48 minutos;
- 27º no ranking da eficiência.

Se limitarmos a análise aos rookies, a sua posição nos rankings é a seguinte:
- 4º em pontos por jogo (1º Kyrie Irving - 17,6);
- 1º em assistências por jogo (2º Kyrie Irving - 4,8)
- 1º em duplo-duplos
- 4º em percentagem de lançamento;
- 7º em percentagem de lançamento de 3 pontos;
- 2º em percentagem de lances livres;
- 6º em ressaltos por jogo;
- 1º em roubos de bola por jogo;

Se restringirmos a análise a bases, a sua posição nos rankings é a seguinte:
- 3º em assistências por jogo;
- 11º em ressaltos por jogo;
- 3º em roubos de bola por jogo;
- 50º em pontos por jogo;

Se excluirmos os três primeiros jogos, as suas médias são as seguintes:
12.8 Pts, 9,8 Ast; 4,9 Res; 2,7 RB

As estatísticas não se ficam por aqui. Por exemplo, no +/- (diferença pontual de uma equipa quando um jogador está em campo), Rubio está em 47º (77 pontos positivos) e é o melhor jogador dos Wolves (9V-10D) neste item.

Com Ricky Rubio em campo, por cada 100 posses de bola, os Wolves marcam 106,5 pontos. Sem a sua presença, ficam-se por 97,3. Defensivamente também se nota a sua influência. Se, com ele em campo, os Wolves sofrem 98,1 pontos por 100 posses de bola, sem o base sofrem 106,3.

Finalmente, Rubio lidera a NBA em assistências para lançamentos de 3 pontos e está em 2º nas faltas ofensivas provocadas.

Importa ainda referir que, na época passada, os Wolves terminaram com 17 vitórias e 65 derrotas e, ao fim de 19 jogos, o seu desempenho cifrava-se em 4 vitórias e 15 derrotas. Se nos recordarmos que duas das principais figuras dos Wolves (Barea e Beasley) não têm jogado devido a lesões, é mais que evidente o enorme impacto que a chegada de Rubio teve para a equipa de Minnesota.

São tantos os itens estatísticos onde se nota o excelente desempenho do rookie espanhol que qualquer consideração subjectiva poderá parecer desnecessária. Mas não é!

Além da avaliação estatística, quem vê os Wolves a jogar, vê uma equipa que, além de ser competente no capítulo defensivo, ofensivamente apresenta um basquetebol bonito, quase linear. Com Rubio em campo, os seus colegas são obrigados a estar permanentemente atentos e preparados para receber a bola mesmo que, aparentemente, não haja possibilidade de a receberem. Se não o estiverem, a equipa é prejudicada não pela incapacidade do base em efectuar o passe mas porque se perdeu uma boa hipótese de recepção de um passe para um lançamento fácil. Os contra-ataques, quando conduzidos por Rubio, são invariavelmente bem definidos. E o controlo da posse de bola, bem como os ritmos no jogo, são, na maior parte das vezes, os indicados no que respeita às necessidades da equipa e aos "tempos" do jogo. Não será por acaso que, mesmo sendo suplente nos primeiros dez jogos, Rubio foi utilizado 12 minutos em cada 4º período de cada um desses jogos...

Tendo em conta que o espanhol está no seu primeiro ano na NBA, o que devemos esperar de si nos próximos anos? A meu ver, não muito mais do que temos visto. É certo que melhorará, até porque espero uma melhoria colectiva da sua equipa, mas não creio que estejamos na presença de uma amostra do que será no futuro. Acredito que melhorará na percentagem de lançamento, ganhará estatuto e haverá mais entrosamento com os colegas. Isto, só por si, significará melhores médias. No entanto, aquilo que considero ser a principal característica de Rubio, o QI basquetebolístico, já estará num patamar apenas reservado aos grandes jogadores como John Stockton, Magic Johnson ou Jason Kidd.

Por outro lado, convém referir que esta é uma temporada atípica. O facto de se jogar 5 ou 6 vezes por semana, impede que as equipas se preparem convenientemente do ponto de vista defensivo. Além da fadiga, não há tempo para montar ou, pelo menos, sistematizar, estratégias defensivas para cada adversário. Seguindo a mesma ordem de ideias, a falta de tempo para treino não ajuda os jogadores que dele necessitam para melhorar aspectos negativos ou menos positivos do seu jogo. No caso de Rubio, o lançamento é a sua principal lacuna.

Gostaria ainda de referir sucintamente algo sobre o Rubio a a NBA que parece paradoxal: O base é melhor jogador na melhor e mais competitiva liga do mundo do que em competições inferiores. Na minha opinião, tal deve-se a quatro factores: As características de Rubio (inteligência, capacidade de passe e experiência competitiva ao mais alto nível tanto em clubes como na selecção, ou seja, não é um rookie normal); A qualidade dos colegas de equipa; As restrições à forma como se pode defender na NBA; A menor importância que se confere aos aspectos defensivos do jogo na NBA.

Para terminar, creio que o Rubio terá um grande impacto no futuro próximo da NBA e do basquetebol. Depois de alguns anos em que os bases se notabilizaram pela capacidade de jogar 1X1, houve uma quase total diluição entre as posições "base" e "segundo base" e criou-se, inclusivamente, uma nova posição, o "point-forward", surgiu agora o Rubio, com sucesso, mais na linha clássica do que deverá ser um base. O gosto pelo acto de passar a bola, estou certo, ressurgirá entre os jovens praticantes de basquetebol.

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